quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

UMA NOVA ESCOLA EM SÃO PAULO


Matemática e português e demais não são ensinados do modo convencional.

Rede municipal de SP tem dois modelos parecidos.

Vanessa Fajardo
Do G1, em São Paulo
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Escola Lumiar, em SP (Foto: Raul Zito/ G1)Na unidade de SP da Lumiar há assembleias semanais para discutir vários temas (Foto: Raul Zito/ G1)
Sem a separação clássica de alunos por série ou carteiras enfileiradas na sala de aula, escolas de São Paulo têm inovado na maneira de ensinar crianças do ensino fundamental. Inspiradas no modelo da Escola da Ponte, uma instituição pública localizada no Porto, em Portugal, criada em 1970, as unidades investem numa metodologia que não prevê, por exemplo, ensinar matemática ou história da forma convencional.
As disciplinas são embutidas em projetos interdisciplinares que mostram o sentido de sua aplicação. Para aprender geografia, vale dar uma volta pela cidade e no entorno da escola. Os conceitos da química ou a física podem ser encontrados em uma oficina de culinária ou na prática de esportes. Na rede municipal de São Paulo, pelo menos duas escolas trabalham dessa maneira, é o caso da Campos Salles, localizada na Favela do Heliópolis, Zona Sul, e da Amorim Lima, no Butantã, Zona Oeste. Na rede particular, há a escola Lumiar, que também possui uma unidade pública, na cidade de Santo Antônio do Pinhal, próxima de Campos do Jordão.
A reportagem do G1 visitou a Lumiar, localizada na Rua Bela Cintra, em São Paulo, para entender as diferenças do projeto pedagógico, comparada ao modelo convencional. Lá, as carteiras são organizadas em forma de roda, os professores são os tutores e os mestres, que podem variar a cada bimestre.
Há assembleias semanais, onde todas as crianças falam sobre diversos temas da escola. Vale tudo, desde uma reclamação sobre um colega, elogios, até uma reivindicação para uma reforma. O uniforme não é obrigatório – exceto nas atividades externas, e o desempenho não é avaliado somente por meio de provas.
Escola Lumiar, em SP (Foto: Raul Zito/ G1)O espaço da escola se parece propositalmente com o de uma casa (Foto: Raul Zito/ G1)
Os alunos aprendem todas as disciplinas obrigatórias previstas pela legislação. A diferença é elas vêm embutidas em projetos que englobam diversos temas e visam desenvolver mais do que uma habilidade de uma vez.
Neste último bimestre, por exemplo, parte dos alunos de São Paulo está aprendendo matemática por meio de um projeto chamado “a busca de equilíbrio nas formas”, que também introduz artes. História e geografia é ensinada, em um dos casos, através de visitas nos bairros de São Paulo e no entorno da escola. A escrita e a caligrafia são treinadas por contos criados pelas crianças que formam um livro em um outro projeto. A aula de música inclui até conceitos de biologia no projeto "os sons da floresta densa."
O colégio atende alunos da educação infantil e do fundamental que participam das atividades separados por ciclos. Assim as crianças de 6 a 8 anos estão no ciclo um; as de 9 a 11 no ciclo dois; e a de 12 a 14 anos no ciclo três. As aulas são chamadas de encontros que duram cerca de 50 minutos. Nos encontros os estudantes participam de projetos bimestrais que abordam diversas disciplinas e desenvolvem as habilidades.
Bernardo Falsitti, de 6 anos, aprova a metodologia diferente da escola (Foto: Raul Zito/ G1)Bernardo Falsitti, de 6 anos, aprova a metodologia diferente da escola (Foto: Raul Zito/ G1)
Bernardo Falsitti Silveira, de 6 anos, é um dos 80 alunos. O menino diz que já sabe o que quer ser quando crescer: um diretor de cinema famoso. Escolheu a profissão após conhecer a arte em uma oficina de cinema na escola. “Aqui é diferente, você não precisa ficar sentado, quieto, olhando para frente. Eu gosto, nas outras escolas que estudei eu já chegava irritado”, afirma sem a mínima timidez, gesticulando e fazendo poses para ser fotografado.
Na unidade pública, em Santo Antônio do Pinhal, a Lumiar atende 41 alunos do bairro Lajeado, área rural de Santo Antônio do Pinhal, e recebe prioritariamente os estudantes desse entorno. A expectativa da secretaria municipal da educação é implantar a metodologia em 100% da rede pública, que abriga sete escolas e 1.513 estudantes, ao longo dos próximos anos.
‘Todas as ideias são possíveis’
Célia Senna, diretora pedagógica do Instituto Lumiar, diz que introduzida nos projetos todas as disciplinas são trabalhadas, de acordo com a faixa etária das crianças. Os projetos são se repetem e a matéria-prima para criá-los vem de sugestões nas salas de aula. “Trabalhamos dessa forma desde o ensino infantil, todas as ideias são possíveis, nada é descartado. Queremos desenvolver o interesse pelo aprendizado. Aprender dói, requer esforço, mas quando se mostra para que ele serve fica mais fácil.”

Os mestres são responsáveis pela aplicação do conteúdo específico das áreas, e se por caso, eles avaliarem que uma turma necessita de uma aula tradicional sobre fração ou equação isto pode ocorrer.
Escola Lumiar, em SP (Foto: Raul Zito/ G1)As mesas não estão enfileiradas para que os alunos trabalhem em roda (Foto: Raul Zito/ G1)
“Não se trata de uma escola alternativa. Temos regras e cumprimos a legislação como qualquer outra escola. A diferença é que pensamos na aprendizagem personalizada, temos um olhar muito individualizado de cada aluno”, afirma Célia. “Alguém determinou que tem de existir a seriação. Por quê? Temos a coisa do ‘tem que’, uma criança com tantos anos ‘tem que’... Não funciona assim na educação, as pessoas têm diferenças de aprendizado”, complementa.
Para a diretora Marina Nordi Castellani, mais importante do que o aluno saber resolver uma equação é identificar se ele sabe organizar e se conhece o princípio que está por trás da fórmula.
O professor da faculdade de educação da Universidade de São Paulo (USP) Vitor Henrique Paro diz que é favorável às inovações pedagógicas desde que tenham base e não sigam modismos apenas. "A nossa escola de modo geral está atrasada, no século 15. É preciso revolucionar", afirma.

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