Mais novidades para a educação com o anúncio da distribuição pelo MEC de tablets para os professores do ensino médio. Para "discutir" o tema, aconteceu na semana passada, em Brasília, uma reunião promovida pelo próprio MEC com diversos pesquisadores brasileiros. ...
... Ao chegarmos na reunião, encontramos cadeiras (carteiras?!) arrumadas como uma sala de aula, um projetor para as nossas apresentações (...), essas com um tempo fixo para as falas - ... - sobre as nossas próprias experiências, salvo uma ou outra fala mais estruturante. A surpresa foi ainda maior quando nos deparamos, em paralelo, promovido pelo próprio MEC e no mesmo hotel, com uma outra reunião/evento (...) para discutir a parte técnica do projeto de "educação digital", como se fosse possível pensar os dispositivos e infra-estrutura separadamente da concepção filosófica e pedagógica. Mesmo que o MEC tenha nos dito que os dois grupos iriam se reunir, fica evidente o equivoco brutal na concepção dessa política pública. Essa distinção tem, no mínimo, um século de atraso!
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Quem me lê pelo menos eventualmente sabe que repito, quase como um mantra, que estas políticas precisam articular diversas áreas e Ministérios (pensem na riqueza de uma articulação das escolas com os Pontos de Cultura!). Insisto que o MEC tem que ser em rede, e rede estabelecidas com os estados, rede com outros ministérios, rede com os professores e rede que envolva os diversos níveis da educação. No entanto, qualificar a palavra "rede" é fundamental. Ficamos acostumados a compreendê-la a partir do intensivo uso da palavra no sistema de comunicação de massa, com a expressão "rede de emissoras de televisão", que produzem os programas no eixo Rio-São Paulo e os distribuem para o resto do país. E, neste caso, mesmo quando existe o envolvimento e participação das chamadas afiliadas, o que vemos são, por exemplo, telejornais que reproduzem tudo, do cenário, entonação de voz, estrutura de programa até sua marca, com pequenas variações de letras para dar a tal cor local. Na verdade, esse tipo de rede é de distribuição (brodcasting) e não é isso que preconizamos para a educação. É necessário que a rede se constitua a partir do diálogo, que considere a realidade e os valores de cada um dos entes e regiões.
Numa rede assim constituída, com professores atuando de forma colaborativa e coletiva, lhes sendo dadas as condições de salário, formação e trabalho, a presença das tecnologias - todas elas ao mesmo tempo! - pode muito contribuir para uma formação também mais ampla, uma formação que prepare professores e alunos para a chamada cultura digital. ...
Trecho da matéria "Tablets, computadores e a escola" - Nelson Pretto - Terra.
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