Retratamos aqui parte de uma entrevista feita pela revista Brasil de Fato com a filósofa cubana Isabel Monal sobre a trajetória socialista de seu país.
Vamos falar, agora, sobre as mudanças em Cuba.
A necessidade de fazer mudanças é evidente. Essa necessidade de modificação era pedida por absolutamente todos. Claro que nem todos tinham em mente o que deveria ser mudado e como deveria ser feito, e ainda hoje pode ser que isso se dê. A juventude, também, estava pedindo essas mudanças como um eixo normal e natural da dinâmica desta própria sociedade. Mas, além disso, no caso específico de Cuba, me parece obviamente necessário o que chamamos de atualização do modelo cubano.
Como seria esse processo?
Reafirmo que as mudanças devem implicar em uma atualização do modelo. Além disso, há a necessidade de retificação de linhas que se seguiram e que estavam erradas, sendo necessário modificá-las. Por exemplo, a liquidação de quase todo o artesanato, que contém uma cultura de séculos.
E o processo revolucionário?
Um dos problemas que nós revolucionários temos ao longo da história é a impaciência. Estamos cheios de um espírito de maior ou menor impaciência. Isso nos faz atuar, nos impulsiona. Mas essa impaciência faz com que se queira já uma ótima forma de justiça social, qualquer forma de desigualdade incomoda muito. Marx, através da Crítica ao Programa de Gotha, alerta contra isto. Não se liquida tudo da velha sociedade de uma só vez. E nós, levados por essa impaciência de liquidar o velho, quisemos queimar etapas e as consequências se pagam. Algumas das coisas que no exterior se divulga é que estamos rumo ao retrocesso ao capitalismo – e eles dizem retrocesso porque é o que eles querem – mas não estamos em um processo de regresso ao capitalismo de nenhuma maneira. O que não quer dizer, por exemplo, que toda uma série de formas de trabalho que em Cuba chamamos de ‘conta própria’, que já existiam, não possa existir.
Como o socialismo e as mudanças propostas são vistas pela juventude?
Temos um problema muito específico com as novas gerações. Eles não têm – e isso não é uma questão só de Cuba – uma verdadeira compreensão, um verdadeiro interesse no mundo. E esse interesse pelo mundo e essa compreensão do mundo, em primeiro lugar, deve ser uma condição desse homem do socialismo que não pode pensar só nele.
Como nossos jovens não vivenciaram as ditaduras militares e nasceram sob a ditadura da mídia dominada pelos interesses da elite sócio-política, eles não criaram uma ideologia combativa a esses valores. Cabe a nós, educadores, com muita paciência e informações precisas, explicar a eles tudo o que sabemos e pensamos sobre isso.
ResponderExcluirPetrônio Filho.