Tablets na sala de aula: mais do mesmo
Clarice Cardoso - Carta Capital de 26/07 (trecho)
E o objeto de desejo do momento e nem as escolas estão livres de modismos. Na onda dos lançamentos de inúmeros modelos de tablet, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, anunciou em junho que investirá 150 milhões de reais na compra de 600 mil aparelhos para uso de professores de Ensino Médio da rede pública de todo o País. Espécie de computador em formato de prancheta com tela sensível ao toque, o tablet tornou-se sensação entre usuários de tecnologia pela portabilidade e a possibilidade de acessar a internet ou ler livros digitais, por exemplo, com mais facilidade.
Receberão os materiais primeiramente as escolas urbanas, com banda larga, rede sem fio e laboratório do Programa Nacional de Tecnologia Educacional (ProInfo). A distribuição se dará no segundo semestre dentro do Educação Digital – Política para computadores interativos e tablets, que prevê a inclusão de tecnologias de informação e comunicação (TICs) no processo de ensino. Os tablets virão num pacote de computadores interativos com lousa, acesso à internet, DVD, microfone, computador e projetor. Os aparelhos terão telas com entre 7 e 10 polegadas, câmera, saída de vídeo e conteúdos pré-instalados.
A estratégia foi anunciada pelo ministro como forma de resolver o problema da evasão escolar no Ensino Médio. “A escola precisa se reinventar para atrair e dialogar com essa juventude”, afirmou na ocasião, ao dizer que o modelo de escola atual é do século XVIII e que é preciso renová-lo. Curiosamente, a imagem coincide com a descrita por Jens Bammel, secretário da International Publishers Association, ao falar sobre a febre mundial dos tablets na educação no 3º Congresso Internacional do Livro Digital, em São Paulo. “Em todo o mundo, surgem políticos dizendo que é preciso trazer a sala de aula para o século XXI enquanto tiram fotos com iPads ao lado de crianças sorridentes”, afirmou, ao descrever o que chama de “tecnofilia dos políticos”. “Na hora, discursam sobre como se isso somente fosse capaz de dar um salto nos indicadores de qualidade, porém, o que se forma é um ciclo de entusiasmo em que os governos repetem os mesmos erros: criam grande expectativa, as coisas se acalmam, as pesquisas mostram pouco ou nenhum resultado e o projeto é enterrado quietamente. Até que um outro político descobre um novo aparato tecnológico com que desfilar diante das câmeras.”
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