quarta-feira, 25 de julho de 2012

PADRE JOÃO PEDRO BARESI - UMA OPÇÃO PELOS POBRES


Sacerdote comboniano relata seus caminhos religiosos e sua atuação no Brasil por justiça social. Parte de entrevista concedida à revista Brasil de Fato (site).

 Quem são os combonianos?
É uma palavra difícil. Comboni nasceu a 60 km da minha casa. E se rebelou na juventude, um espírito de Deus. Decidiu dar a sua vida por alguém que precisasse. Decidiu ir ao Japão porque tinha lido a respeito dos mártires japoneses que tinham sido mortos. Depois encontrou com alguém que vinha da África e começou a descrever a situação de lá. E ele resolveu ir pra lá por estarem pobres e abandonados. Ele partiu para lá e, naquela época, no mapa da África Central, estava só escrito: HIC SUNT LEONES (Aqui existem leões). Não se sabia nada. Ele partiu quando Roma estava fechando a presença da igreja no continente africano porque morriam todos. Ele praticamente colocou um pé na porta e conseguiu a manter aberta. Então, o que admiro em Comboni? Resume-me naquela frase: a única paixão da minha vida foi o povo negro. Nós combonianos devemos muito a isso aqui no Brasil. Nós tivemos um grande homem, que morreu muito jovem, Heitor Frisoti, que se identificou muito com o povo negro do Brasil. Mas nós não tivemos a capacidade e a prontidão.

Nesse sentido de conhecer a realidade do povo, o senhor acha que o celibato deveria ser opcional?
Sim. Eu primeiro digo que faria a opção pelo celibato, mas deve ser opcional. Eu tenho amigos seminaristas que seriam ótimos padres missionários, mas largaram por querer casar.
 Nesse sentido, o senhor acha que esse “espírito” da Teologia da Libertação, se transmutando, ele está presente nos indignados da Espanha, no Occupy Wall Street...
Evidente. Está presente em 1968. Cito mais uma vez Comblin, quando dizia que os terroristas de hoje serão os heróis de amanhã. Isto é, a maneira de olhar a história que precisa descobrir (precisa ser descoberta). Quer seja a história do poder ou a história do povo que cresce. Agora eu acho que muitas pessoas da teologia, digamos da pastoral da libertação, para não ficar nos especialistas, prejudicaram muito a linha libertadora. Faziam aqueles comícios na igreja, não aprofundavam nada, teve gente que foi afastada das comunidades só porque queriam rezar... Eu penso que a linha da teologia da libertação está vivendo um inverno. Mas eu acredito que as sementes estão aí. E resistem os melhores. Quem entrou no oba-oba já era, porque o reino de Deus não cresce no oba-oba. Deve-se entregar a vida. Não se deve ganhar. A história é sempre um perder. Esse é o sentido da morte de Cristo. A vitória com toda a aparência de morte, de derrota. Isso é difícil de assimilar.

E o que é afinal o “espírito” da Teologia da Libertação?
Você fala em teologia e já sabe que reflete na pastoral da libertação. Está no documento da Conferência de Meddelín, que disse: “olhando para o nosso povo descobrimos que tem um grito abafado para ser libertado e que ninguém escuta”. Então o espírito é serviço ao povo. A igreja que não é pra si mesma.

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