A Campanha Nacional pelo Direito à Educação divulgou carta aberta na qual
elogia a atitude dos deputados da Comissão Especial do PNE, que aprovaram o
investimento público de 10% do PIB para a Educação. No mesmo texto, a Campanha
também critica a postura de alguns dos principais veículos de comunicação do
país, que logo após a aprovação passaram a criticar, em editoriais e artigos, o
que chamam de "aventura fiscal" ou "demagogia na educação". Leia abaixo a
íntegra da carta.
Patamar de 10% do PIB para a educação pública:
necessário e possível
Excelentíssimos(as) Deputados e
Deputadas da Comissão Especial do novo PNE
(Projeto de Lei
8035/ 2010)A/C do Presidente Deputado Lelo Coimbra (PMDB/
ES)
Excelentíssimos(as) Deputados e Deputadas da
Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados
A/C
do Presidente Deputado Newton Lima (PT/ SP)
Nem deu tempo de o
movimento educacional comemorar a aprovação da meta de investimento equivalente
a 10% do PIB para a educação pública, a ser cumprida em um período de dez anos,
no âmbito do novo PNE (Plano Nacional de Educação).
Após noticiarem, na
quarta-feira passada (27 de junho), a correta e autônoma deliberação parlamentar
ocorrida na Comissão Especial que analisa a matéria, alguns dos principais
veículos de comunicação do país passaram a criticar, em editoriais e artigos, o
que chamam de "aventura fiscal" ou "demagogia na educação".
Parte
significativa da imprensa brasileira peca pela descrença no país. Nos anos 1980
o programa brasileiro de prevenção e tratamento à AIDS era considerado um
equívoco. No começo dos anos 1990 parte da mídia afirmava ser impossível
controlar a inflação. No início dos anos 2000 dizia ser arriscado um metalúrgico
assumir a Presidência da República. Um pouco adiante, defendeu que programas de
transferência de renda, como o Bolsa Família, não trariam bons resultados
sociais, sendo considerados desnecessários ou perdulários. Em meados dos anos
2000, a imprescindível inclusão das creches no Fundeb (Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização dos Profissionais da Educação)
foi denominada de despropositada. Mais recentemente, defendia que era
irresponsabilidade reduzir os juros, em que pese o fato de o Brasil ainda contar
com taxas muito altas. Em todas essas situações, os grandes veículos de
comunicação, seus conselhos editoriais e seus articulistas descrentes erraram,
como comprova um rápido exame da História recente.
Os movimentos e as
entidades signatários desta Carta estão convictos: mais uma vez aqueles que
desconfiam das capacidades do Brasil e não prezam pela justiça social erraram,
erram e errarão em seus textos e em sua análise. É somente com um patamar de
investimento equivalente à importância e à complexidade do direito à educação
pública que serão dadas as condições necessárias para a emergência de um país
justo, sustentável e próspero. Desse modo, parabenizamos a coragem e a correção
dos senhores e das senhoras na aprovação da meta de investimento em políticas
públicas educacionais equivalente a 10% do PIB.
Diferentemente do que tem
sido noticiado, o debate acerca do novo PNE foi intenso e plural, ao longo dos
últimos dezoito meses. Afora os milhares de eventos ocorridos por todo o país,
milhões de brasileiros e brasileiras que participaram da Conae (Conferência
Nacional de Educação - 2010) aprovaram por unanimidade a aplicação de 10% do PIB
para a educação pública. Além disso, quase uma centena de audiências públicas
ocorreu em todo o território nacional entre 2011 e 2012, incluindo debates
realizados no Congresso Nacional. Todas as atividades abertas e democráticas. A
discussão sobre o financiamento da educação foi o tema mais corrente e debatido.
Longe de se caracterizar apenas por uma disputa de bandeiras políticas, foi uma
discussão baseada em cálculos e estudos produzidos tanto pela sociedade civil,
com destaque para a Nota Técnica da Campanha Nacional pelo Direito à Educação,
quanto por pesquisadores e especialistas, por órgãos do Governo Federal - como o
MEC (Ministério da Educação) e o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada)
-, e por análises empreendidas pelo relator da matéria, deputado Angelo Vanhoni
(PT-PR).
Reforça todo o conjunto de argumentos um informe recente da OCDE
(Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, órgão vinculado à
ONU (Organização das Nações Unidas), publicado neste ano, mostrando que para
garantir uma educação básica de qualidade, um país deve investir um total de USD
35 mil (trinta e cinco mil dólares) por aluno na trajetória escolar de 6 a 15
anos de idade. O Brasil não gasta nem USD 18 mil (dezoito mil dólares) por aluno
no mesmo período. Nem mesmo com 10% do PIB para a educação pública conseguiremos
atingir o patamar recomendado. Contudo, daremos um importante salto,
especialmente porque as metas de valorização docente aprovadas no PNE mostram
que o caminho escolhido como prioridade para os próximos dez anos é o
fortalecimento do magistério.
É por esse e outros dados, exaustivamente
expostos e debatidos, inclusive com boa repercussão nos grandes veículos de
imprensa, que saudamos a aprovação da meta de investimento equivalente a 10% do
PIB em educação pública. Foi de forma autônoma, unânime, suprapartidária e
preocupada com a melhoria da qualidade da educação pública, que a Comissão
Especial do PNE, majoritariamente composta por parlamentares da Comissão de
Educação e Cultura da Câmara dos Deputados, teve atitude corajosa e acertada na
emblemática votação da terça-feira passada, dia 26 de junho.
A
deliberação se baseou em uma decisão ponderada, diferentemente do que tem sido
afirmado e repercutido na grande imprensa. Diante da crise econômica
internacional, a Comissão Especial do PNE atrasou uma promessa de campanha da
Presidenta Dilma Rousseff, manifestada em seu programa de governo e em debates
televisivos. A então candidata e agora presidenta assumiu o compromisso de
aplicar o equivalente a 7% do PIB em educação pública até 2014. O texto aprovado
pela Comissão Especial do PNE aponta, pelo rito normal de tramitação, que esse
patamar prometido por Dilma deverá ser alcançado apenas em 2017 ou 2018, quando
o pior da crise econômica internacional terá passado e a exploração do Pré-Sal
poderá financiar o direito à educação, ciência, tecnologia e inovação, além das
políticas públicas de saúde, conforme decisões recentes e louváveis da Câmara
dos Deputados.
Caros e caras parlamentares, parabéns pela seriedade e
ousadia de corresponder, por meio de uma deliberação acertada, aos votos dos
milhões de eleitores que representam. Pela primeira vez na História, o debate da
prioridade da educação saiu do discurso por meio de uma medida prática. A
aprovação do patamar de 10% do PIB em educação pública demonstra que o país está
se preparando para cumprir com os ditames constitucionais.
Ao mesmo
tempo, os senhores e as senhoras também fizeram jus ao fato de comporem um
colegiado que se reúne no Plenário Florestan Fernandes e concede um prêmio
orgulhosamente nomeado de Darcy Ribeiro. Além disso, e nunca é ocioso lembrar, a
aprovação do PNE se deu nos marcos dos oitenta anos do Manifesto dos Pioneiros
da Educação Nova e seus votos conseguirão dar concretude às célebres palavras de
Paulo Freire: "se a educação sozinha não melhora a sociedade, tampouco sem ela a
sociedade muda".
Finalizamos, reforçando nosso reconhecimento e nossa
solidariedade, com a certeza de que os integrantes da Comissão Especial do PL
8035/ 2010 e da Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados
permanecerão firmes na defesa do direito à educação, tal como fizeram no dia 26
de junho de 2012. Que tenha sido apenas um primeiro passo.
Assinam
entidades e movimentos em defesa do direito à educação, sindicatos e
confederações de trabalhadores da educação, instituições de gestores da educação
municipais e estaduais, fóruns e uniões de conselheiros da educação,
organizações de pais e familiares de alunos, entidades de pesquisa em educação,
associações de mães e pais de alunos com deficiências, fóruns de educação
infantil e de jovens e adultos, organizações não-governamentais comprometidas e
dedicadas às políticas educacionais e aos direitos humanos, entidades do
movimento estudantil, entre outros.
Assinaturas, por ordem
alfabética:
AÇÃO EDUCATIVA – ASSESSORIA, PESQUISA E
INFORMAÇÃO
ACTIONAID BRASIL
ALB (ASSOCIAÇÃO DE LEITURA DO BRASIL)
AMP
(ASSOCIAÇÃO DOS MUNICÍPIOS DO PARANÁ)
ANPAE-DF (ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE
POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO DA EDUCAÇÃO – DF)
ANPED (ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE
PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM EDUCAÇÃO)
ANPG (ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS
PÓS-GRADUANDOS)
APRECE (ASSOCIAÇÃO DOS MUNICÍPIOS E PREFEITOS DO ESTADO DO
CEARÁ)
ASSEEC (ASSOCIAÇÃO DOS SERVIDORES DA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO
DO CEARÁ)
ASSOPAES (ASSOCIAÇÃO DE PAIS DE ALUNOS DO ESTADO DO ESPÍRITO
SANTO)
AVANTE, EDUCAÇÃO E MOBILIZAÇÃO SOCIAL
CAMPANHA NACIONAL PELO
DIREITO À EDUCAÇÃO
CAMPE (CENTRO DE APOIO ÀS MÃES DE PORTADORES DE
EFICIÊNCIA)
CCLF (CENTRO DE CULTURA LUIZ FREIRE)
CEDECA-CE (CENTRO DE
DEFESA DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE DO CEARÁ)
CEDES (CENTRO DE ESTUDOS
EDUCAÇÃO E SOCIEDADE)
CEE-CE (CONSELHO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DO CEARÁ)
CNTE
(CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES EM EDUCAÇÃO)
COMISSÃO DE DEFESA DO
DIREITO À EDUCAÇÃO DO CEARÁ
CONSED (CONSELHO NACIONAL DOS SECRETÁRIOS DE
EDUCAÇÃO)
CONTEE (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES EM ESTABELECIMENTOS
DE ENSINO)
ESCOLA DE GENTE – COMUNICAÇÃO E INCLUSÃO
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
FEPRAF (FÓRUM PELA EDUCAÇÃO DA PRAIA DO
FUTURO)
FETAMCE (FEDERAÇÃO DOS TRABALHADORES NO SERVIÇO PÚBLICO MUNICIPAL DO
ESTADO DO CEARÁ)
FETRACE (FEDERAÇÃO DOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS NA
AGRICULTURA DO ESTADO DO CEARÁ)
FINEDUCA (ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISA EM
FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO)
FNCE (FÓRUM NACIONAL DOS CONSELHOS ESTADUAIS DE
EDUCAÇÃO)
FOJUPE (FÓRUM DAS JUVENTUDES DE PERNAMBUCO)
FÓRUM DE EDUCAÇÃO DE
JOVENS E ADULTOS DO CEARÁ
FÓRUM DE EDUCAÇÃO INFANTIL DO CEARÁ
FÓRUM
NACIONAL DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA
FÓRUM PAULISTA DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS
FUNDAÇÃO ABRINQ PELOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
GRUPO
CLIO (ASSOCIAÇÃO DE PROFESSORES DO CEARÁ – GCLCO/TM)
INESC (INSTITUTO DE
ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS)
MIEIB (MOVIMENTO INTERFÓRUNS DE EDUCAÇÃO INFANTIL DO
BRASIL)
MST (MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA)
MST-CE
(MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA – MST/CEARÁ)
MSU (MOVIMENTO DOS
SEM UNIVERSIDADE)
ONG ENCINE
PACTO "UM MUNDO PARA A CRIANÇA E O
ADOLESCENTE DO SEMI-ÁRIDO" – COMITÊ CEARÁ
REDE MARISTA DE
SOLIDARIEDADE
RNPI (REDE NACIONAL PRIMEIRA INFÂNCIA)
SETORIAL DE EDUCAÇÃO
DO PCdoB-CE
SETORIAL DE EDUCAÇÃO DO PSOL-CE
SETORIAL DE EDUCAÇÃO DO
PT-CE
SINDICADO DOS SERVIDORES DO IFET/CEARÁ – SINDSIFCE/S.S.
SINAFESE
SINDICATO APEOC
SINDICATO DOS DOCENTES DA UECE – S. S.
ANDES
SINDICATO DOS TRABALHADORES NO SERVIÇO PÚBLICO ESTADUAL DO
CEARÁ/MOVA-SE
SINDIUTE (SINDICATO ÚNICO DOS TRABALHADORES EM EDUCAÇÃO DO
CEARÁ)
UBES (UNIÃO BRASILEIRA DOS ESTUDANTES SECUNDARISTAS)
UECE (CENTRO
DE EDUCAÇÃO DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ )
UNCME (UNIÃO NACIONAL DOS
CONSELHOS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO)
UNCME-CE (UNIÃO NACIONAL DOS CONSELHOS
MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO – CEARÁ)
UNDIME (UNIÃO NACIONAL DOS DIRIGENTES
MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO)
UNDIME-CE (UNIÃO NACIONAL DOS DIRIGENTES MUNICIPAIS
DE EDUCAÇÃO DO CEARÁ – UNDIME/CE)
UNE (UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES)
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