BY MANUEL CASTELLS – 04/09/2012
POSTED IN: CRISE FINANCEIRA, MUNDO, POST
Castells: como elites estão rompendo o pacto social
Do site OUTRASPALAVRAS - Petrônio Filho.
Com argumentos inconsistentes e sem visão de futuro, Ocidente constroi um Estado de Mal-estar. Para enfrentá-lo, novas alianças serão indispensáveis
Por Manuel Castells | Tradução: Daniela Frabasile
O que estamos vivendo em todo o mundo, no contexto da crise financeira, é uma transição – do Estado de Bem-estar social para um Estado de Mal-estar. Na convenção do Partido Republicano, nos Estados Unidos, realizada em Tampa, semana passada, aclamou-se um programa baseado na proposta de Orçamento apresentada por Paul Ryan, o líder mais carismático da direita. Implica cortar serviços públicos; reduzir maciçamente os impostos pagos pelos endinheirados e grandes empresas; manter os que são exigidos dos setores médios e baixos. Alega-se que, assim, será possível reduzir o déficit orçamentário (principalmente através dos cortes de despesas) e estimular o investimento (porque os ricos supostamente investiriam com o dinheiro disponível, o que contraria a evidência empírica dos últimos vinte anos…).
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É agora ou nunca. É preciso parar de gastar com seguro-desemprego, porque beneficia jovens vagabundos, sem respeito pela autoridade. Com os pacientes, porque consomem remédios demais (e como as empresas farmacêuticas poderiam prosperar?). Com os professores, que não desistem de ser educadores – em vez de meros gestores de depósitos de crianças. E inclusive com funcionários públicos considerados heróis da sociedade: bombeiros, policiais e demais agentes de segurança, mal-pagos, maltratados e obrigados às vezes a prender pessoas com quem se solidarizam.
Argumenta-se que em tempos de crise não se pode manter esses luxos. Esquece-se que só é possível sair da crise com produtividade e competitividade, o que requer educação, pesquisa, serviços públicos eficientes.
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O Estado de Bem-estar é a base da produtividade e da solidariedade social. No livro que publiquei alguns anos atrás, com Pekka Himanen, sobre o modelo finlandês, mostramos como a produtividade e competitividade da Finlândia – uma das mais altas na Europa, e superior à alemã – baseava-se na qualidade de capital humano, da educação, das universidades, da pesquisa. E também da saúde pública (sem corpore sano não há mens sana).
Nestas condições, surge um círculo virtuoso: o Estado de Bem-estar social gera capital humano de qualidade, que gera produtividade, que permite financiar sobre bases não inflacionárias o Estado de Bem-estar. Se as partes se desconectam, o sistema afunda.
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Mas há algo ainda mais importante. O Estado de Bem-estar social não foi um presente de governos ou empresas. Resultou, entre 1930 e 1970, de potentes lutas sociais, que conseguiram renegociar as condições de repartição da riqueza. Estabeleceu, como resultado, uma paz social que permitiu concentrar esforços em produzir, consumir, viver e conviver
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