Nos últimos três anos, a média
de gastos da Previdência Social com problemas de
saúde gerados no próprio ambiente de trabalho cresceu acima das despesas
com os afastamentos previdenciários gerais. O elevado número de
registros de doenças mentais que podem ser associados a um
cotidiano profissional insalubre, como estresse, depressão, transtornos de
ansiedade, síndrome do pânico e até dependência de drogas e álcool,
é um indicativo para a expansão mais firme das despesas com os chamados
benefícios acidentários — quando um trabalhador é afastado por causa de doença
comprovadamente adquirida em função do emprego ou acidente
sofrido durante a jornada de trabalho.
(...)
Os casos de aposentadoria por
invalidez (por motivações diversas) também têm crescido dois dígitos.
Entre janeiro e novembro de 2012, o INSS bancou R$ 30,86 bilhões
para apoiar profissionais que nunca mais poderão
exercer suas atividades normalmente.
De acordo com a Pesquisa Mensal de
Emprego (PME) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a
jornada semanal média dos trabalhadores brasileiros não aumentou ao longo
desses quatro anos, mantendo-se em 39,9 horas semanais. Para o pesquisador Eric
Calderoni, doutor em psicologia social pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC-SP) e Columbia University,
de Nova York, a rotina do trabalhador é que se tornou mais estressante.
“Sofrimento no ambiente
profissional não é só ritmo e tempo, mas sobretudo organização do
trabalho: ordens contraditórias, assédio, metas, questões éticas, autonomia,
senso de dever bem cumprido, estabilidade no emprego, clima”, pondera
Calderoni.
Os auxílios-doença,
previdenciários e acidentários, concedidos a trabalhadores por causa de
depressão ou transtornos depressivos recorrentes cresceram a uma média
de 5% nos últimos cinco anos, superando 82 mil ocorrências
anuais. Esse quadro preocupa o governo e tem mobilizado sindicatos e empresas a
criar novas práticas laborais com o objetivo de evitar as chamadas
doenças da modernidade.
Em resposta a questionamentos da
reportagem, a área técnica do Ministério da Previdência
Social reconhece que o problema “chama atenção de formuladores de
políticas públicas” e informa que tem feito estudos e avaliações
sobre a evolução desses números a fim de investir em processos preventivos.
Para o ministério, os últimos anos desfavoráveis para a economia global e
de baixo crescimento interno impactaram negativamente a saúde do trabalhador.
A médica do trabalho Maria
Maeno, diretora da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do
Trabalho (Fundacentro), entidade ligada ao Ministério do Trabalho, concorda com
a visão governamental, mas avalia que respostas de empresas e governos
para enfrentar a situação são ineficazes.
“Não há política bem definida
de reabilitação profissional que coloque pessoas de volta no
mercado, o que explica maiores gastos com benefícios.
Também não há espaços dentro das empresas para analisar a condição do
trabalhador e eventualmente encaminhar o tratamento do problema ou mudá-lo de
área”, diz Maeno.
(..)
Maria Maeno também pondera que
o Sistema Único de Saúde (SUS), para onde vai a maior parte dos
trabalhadores acidentados, e a perícia médica do INSS, responsável
pelo diagnóstico que determinará o benefício previdenciário,
sofrem de falta de empenho na resolução de casos. “O ideal é o SUS trabalhar de
forma preventiva, cumprindo o papel de vigilante das condições de saúde no
ambiente de trabalho”, sugere a médica, para quem o problema central é
estrutural.
“Principalmente para minimizar
transtornos mentais, Estado e capital privado não incorporaram o
ser humano dentro da equação de sustentabilidade. Diante da
competitividade exacerbada, falta de solidariedade — uma vez que cada um quer
salvar seu emprego — e ameaças de enxugamento e demissão, é preciso pensar no
desenvolvimento do trabalhador enquanto cidadão, deixar de lado a visão
economicista excessiva”, opina Maria.
Os auxílios-doença,
previdenciários e acidentários, concedidos a trabalhadores por causa de
depressão ou transtornos depressivos recorrentes cresceram a uma média
de 5% nos últimos cinco anos, superando 82 mil ocorrências
anuais. Esse quadro preocupa o governo e tem mobilizado sindicatos e empresas a
criar novas práticas laborais com o objetivo de evitar as chamadas
doenças da modernidade.
Em resposta a questionamentos da
reportagem, a área técnica do Ministério da Previdência
Social reconhece que o problema “chama atenção de formuladores de
políticas públicas” e informa que tem feito estudos e avaliações
sobre a evolução desses números a fim de investir em processos preventivos.
Para o ministério, os últimos anos desfavoráveis para a economia global e
de baixo crescimento interno impactaram negativamente a saúde do trabalhador.
(...)
Outro setor onde as
discussões sobre saúde no trabalho são bastante acaloradas é o
bancário. Sindicalistas reclamam, principalmente,
das cobranças por metas exageradas, constrangimentos e
atitudes autoritárias de superiores e associam esses problemas ao
desenvolvimento de mazelas por parte dos
trabalhadores, com ênfase aos transtornos mentais, como estresse e depressão.
(...)
Magnus Ribas, diretor de
relações do trabalho da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), pondera que
é “cientificamente” difícil estabelecer correlação entre doenças mentais e
trabalho e que o setor bancário é o único que fornece plano de saúde para
seus mais de 500 mil trabalhadores e familiares.
Segundo ele, recentemente os dez
maiores bancos brasileiros criaram uma comissão para tratar
da saúde laboral. O objetivo é criar 20 diretrizes para melhorar a
qualidade de vida no trabalho.
Sobre o problema relacionado a
pressões e constrangimentos nas agências, o executivo conta que os
maiores bancos do país criaram uma espécie de “disque-denúncia”, um canal
de comunicação do bancário com uma área neutra do departamento de
recursos humanos ou da ouvidoria para o registro anonimamente
ocorrências. De acordo com levantamento da Febraban, no primeiro semestre
de 2012 foram registradas 132 denúncias de bancários.
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