Fátima Oliveira: Maria Montessori, a médica italiana fascinada pela educação
publicado em 6 de novembro de 2012 às 0:28 (Republicado aqui por Petrônio Filho)
Fátima Oliveira, no Jornal OTEMPO
Médica – fatimaoliveira@ig.com.br
Das aulas de pedagogia do curso normal, antigo curso de formação de professor(a) primário(a), uma figura inesquecível é Maria Montessori (1870-1952), a primeira italiana a se diplomar em medicina (Universidade de Roma, 1896), correndo na raia da transgressão do status quo: por ser mulher, precisou obter autorização do papa Leão XII para cursar medicina, profissão que o diretor da faculdade e a família dela não queriam que adotasse; feminista, participou de congressos feministas em Berlim e em Londres; e foi mãe solteira, do seu único filho, Mario Montessori, em 1900!
Fez especialização em psiquiatria com foco em “crianças anormais” – quando criou o método da pedagogia científica, hoje, método Montessori, no ambulatório da Universidade de Roma, para crianças com necessidades especiais, com resultados surpreendentes. Intuiu que o seu método, cujos princípios são a atividade, a individualidade e a liberdade, era replicável em crianças sem comprometimentos mentais.
Em 1898, num congresso médico em Turim, declarou que “deficientes e anormais” necessitavam mais de um bom método pedagógico do que de medicina e que “as esperanças de qualquer desenvolvimento estavam no professor, não no clínico”; concluiu que era contra a internação de “crianças anormais” e propôs escolas para elas, conforme métodos inspirados nos médicos e nos educadores franceses Jean Marc Gaspard Itard (1774-1838), professor de “o garoto selvagem de Aveyron”, e Eduard Ségui (1812-1880). Foi um escândalo nos meios médico e educacional.
O ministro da Instrução Pública da Itália à época era Guido Baccelli, ex-professor dela. Encantado com suas ideias, convidou-a para ministrar conferências em Roma sobre “o ensino de anormais”, desencadeando um movimento público a favor das ideias montessorianas. Intelectualmente inquieta, Montessori voltou aos bancos escolares para aprender psicologia experimental e pedagogia nas universidades de Roma, Nápoles, Milão, Paris e Londres. Em 1904, foi nomeada para a cadeira de antropologia pedagógica da Universidade de Roma, lugar privilegiado para divulgar suas ideias e preparar educadores para “crianças anormais”.
Em 1906, em Roma, foi procurada por uma construtora de prédios para pobres, no bairro San Lourenzo, que buscava socorro para um problema social grave: pais e mães trabalhadores saíam cedo de casa, e as crianças ficavam ao deus-dará e danificavam os prédios! Buscava algo que não fosse uma escola, mas que “tomasse conta da criançada”; para tanto, cederiam uma sala em cada bloco, além de pagar o pessoal necessário para desenvolver um projeto pedagógico de cuidados para crianças de 3 a 7 anos, sem ônus para a família!
Maria Montessori entendeu que era pegar ou largar! E aceitou o desafio, com base em farto material científico de sua lavra sobre crianças de rua. Assim, criou a primeira “Casa dei Bambini” (Casa das Crianças), em janeiro de 1907. Em menos de quatro meses, os resultados eram tão inacreditáveis que, em abril de 1907, foi fundada a segunda, logo depois, a terceira… Em 1911, o método Montessori foi adotado nas escolas primárias da Itália, mas, em 1931, Mussolini fechou as escolas montessorianas, por recusa de apoio ao regime fascista.
Montessori exilou-se na Espanha, ali iniciando uma peregrinação pedagógica pelo mundo até a sua morte, em 1952. A pedagogia montessoriana é tão inovadora que, na segunda década do século XXI, explodiu a moda dos quartos montessorianos para bebês, que tornam o berço obsoleto e dispensável!
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