O que fazer pelos Guaranis Kaiowás?
Comitê de Solidariedade organiza, nesta sexta-feira, atos e arrecadação de recursos em mais de vinte cidades. Em São Paulo, haverá show na quinta
Por Taís Capelini - (Publicado aqui por Petrônio Filho).
Quem se sensibiliza com a luta dos guaranis-kaiwás já tem novas maneiras de lutar por eles, além de homenageá-los em nomes no Facebook. Nos próximos dias, dezenas de organizações, articuladas no Comitê de Solidariedade ao povo Guarani-Kaiowá, realizarão eventos para dar repercussão à causa dos índios e arrecadar os recursos necessários a que continuem resistindo na região.
Atos em solidariedade aos índios estão sendo articulados em pelo menos vinte cidadesdo Brasil, na próxima sexta-feia (9/11). O convite é para que as pessoas levem faixas, protestem e tomem as ruas para chamar atenção a situação no Mato Grossodo Sul. Em São Paulo, ocorrerá uma marcha, com concentração às 13 horas no MASP. De lá as seguirão até o Tribunal Regional Federal (TRF) da 3ª Região, onde estão sendo julgadas ações relativas às terras dos guaranis-kaiowás. O destino final será a sede da União da Indúsria da Cana-de-açúcar (Unica). A entidade representa o agronegócio do açúcar, que há décadas pressiona os índios e os expulsa de seus territórios.
Show Mawaca e Campanha de arrecadação
Em São Paulo, um dia antes, ocorrerá um show do grupo Mawaca, cuja renda será integralmente revertida para a resistência guarani-kaiowá. Contará com a presença de Marlui Miranda, do Povo Kaxinawa (do Acre_ e da Comunidade Bayaroá (do Amazonas). Ocorrerá às 21h do dia 8 (quinta-feira), no Teatro Anhembi Morumbi na Rua Dr. Almeida Lima, 1176, Mooca–(próximo à Estação Bresser-Mooca do Metrô). Os ingressos serão vendidos por R$ 25,00 (inteiro) e R$ 12,00 (meia entrada) e podem ser adquiridos pelo telefone: (11) 2872-1457.
Para quem se dispõe a colaborar com a causa mas não poderá comparecer ao show, o Comitê de Solidariedade também disponibiliza uma conta bancária e um local físico de recebimento. Além de doações financeiras, também são aceitos alimentos, roupas, entre outras coisas. Mais informações no site.
Os limites do primeiro alívio
Em 30 de outubro, as pressões da opinião pública em favor dos guarani-kaiowás conquistaram uma primeira alívio — porém bastante limitado. A desembargadora Cecilia Mello, do TRF-3, acatou recurso apresentado pela Fundação Nacional do Índio (Funai) e suspendeu liminar que determinava a retirada do acampamento dos índios guaranis na Aldeia Pyelito Kue, situada no interior da Fazenda Cambará, em Iguatemi-MS.
Para as lideranças indígenas, a vitória só será comemorada quando houver, de fato, a devida homologação e demarcação definitiva das terras indígenas. Em Pyelito Kue, mais de 200 guaranis dividem um território de apenas um hectare, enquanto uma única família, proprietária da fazenda, ocupa 761 hectares.
Há décadas, os guaranis-kaiowás, que ocupam os territórios localizados à margem dos rios Brilhantes, Dourados, Apa, Iguatemi e Hovy – esperam a demarcação de suas terras por parte do Estado e sofrem com a pressão de grandes produtores rurais, que se estabeleceram na região ao longo do século passado.
Segundo Ládio Veron, liderança indígena da etnia, “existem 49 aldeias prontas para serem reconhecidas como terra indígena, mas foram embargadas pelo Supremo Tribunal Federal. A demora da Funai para realização dos estudos antropológicos também é motivo, segundo ele, para o aumento dos conflitos”. [2]
Com a lentidão, somada à omissão do Estado, a quantidade de terras demarcadas diminuiu nos últimos anos, e aumentou a instabilidade dessas populações. Quando a Justiça não determina os despejos dos índios, a pedido dos fazendeiros, a expulsão é feita por jagunços, a mando dos supostos “proprietários” da terra. [2] As áreas são desmatadas, queimadas e envenenadas com agrotóxicos para permitirem a produção de cana, eucaliptos e soja. Em outras situações, nada se planta, após a retirada dos índios — mantém-se a terra parada, para especulação e valorização imobiliária.
Embora o conflito arraste-se há décadas, ele alcançou repercussão inédita há cerca de um mês, quando tornou-se conhecida carta em que comunidade Pyelito kue anunciava a intenção de não deixar a área com vida. O documento foi provocado por decisão do Judiciário em Naviraí (MS), determinando a retirada dos cerca de 170 índios que ocupam o pequeno trecho da Fazenda Cambará, às margens do rio Hovy.
Na carta lê-se: “Ali estão o cemitérios de todos nossos antepassados. Cientes desse fato histórico, nós já vamos e queremos ser mortos e enterrados junto aos nossos antepassados aqui mesmo onde estamos hoje, por isso, pedimos ao governo e à Justiça Federal para não decretar a ordem de despejo/expulsão, mas solicitamos para decretar a nossa morte coletiva e para enterrar nós todos aqui. Pedimos, de uma vez por todas, para decretar a nossa dizimação/extinção total, além de enviar vários tratores para cavar um grande buraco para jogar e enterrar os nossos corpos. Esse é nosso pedido aos juízes federais”.
Embora os suicídios entre os guaranis-kaiowá ocorram há tempos, em decorrência das violências e situações degradantes a que são submetidos, a Aty Guasu, a grande assembleia do povo Guarani-Kaiowá, entende que não se trata de um anúncio de suicídio. Mas que, no contexto da luta pela terra, os índios estão dispostos a morrerem todos nela, sem jamais abandoná-las. [1]
Para os índios, a relação com a terra vai muito além do local onde vivem. A terra, ou tekoha (“lugar sagrado”), significa o lugar onde “realizam seu modo de ser”. É onde os seus cantos, ritos, a colheita, a caça e a pesca têm uma significação. Fora desse espaço perdem seu sentido e a sua cultura vê-se desestruturada.
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